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VÍDEO: 'Quem sou eu para ser decisivo?', diz Farret sobre apoio a Pozzobom, reeleito em Santa Maria

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Figura que pode ser considerada um fenômeno eleitoral do interior do Estado, José Haidar Farret, prefeito por dois mandatos e vice-prefeito por três, retornou à mídia em 2020, quando abriu voto em plena propaganda eleitoral para Jorge Pozzobom (PSDB). Inclusive, há quem considere que o apoio público do "doutor Farret" tenha sido decisivo para a virada do tucano sobre o adversário, Sergio Cechin (Progressistas), no segundo turno.


Aos 78 anos, o político está inelegível até 2023, em consequência de uma condenação da Justiça Federal relacionada à profissão dele, a de médico, envolvendo a família de um paciente e o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). Mesmo assim, ele se mantém atento aos movimentos do eleitorado - o alto índice de abstenção da eleição de 2020, por exemplo, o preocupa.

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Atualmente, Farret ainda atende em um consultório particular e, duas vezes na semana, trabalha na Policlínica Central José Erasmo Crossetti, como médico dermatologista do Consócio Intermunicipal de Saúde.

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O Diário esteve no apartamento do histórico político, que também soma mandatos de vereador e deputado estadual, para uma conversa sobre gestão pública, pandemia e eleições. Leia, a seguir, o que Farret disse sobre o ano que chega ao fim. 

Diário - Como médico e exprefeito, qual é a sua percepção sobre a pandemia?

José Haidar Farret - A pandemia pegou todo mundo de surpresa. Ela fez com que os administradores deixassem de priorizar obras e atitudes previstas porque veio o impossível. Os minguados recursos foram usados para combate à Covid-19, embora os governos federal e estadual ajudassem muito. Teve muito desemprego e muitos ficaram perplexos. Como médico, eu diria que nunca se viu tanta depressão como hoje. É impressionante como as pessoas foram atingidas nesse sentido. O povo está tenso. Muitos perderam os pais sem poder participar do velório. Por outro lado, também se viu a solidariedade emergir com força, com as pessoas fazendo campanhas para ajudar os mais pobres, confeccionando máscaras, produzindo álcool gel e as empresas fazendo cestas básicas.

Diário - O senhor é a favor do isolamento total ou parcial?

Farret - Eu sou a favor de três itens: distanciamento social, higienização das mãos, e uso de máscaras. Eu sou muito a favor de ouvir a ciência.

Diário - No início da pandemia, entre março e abril, alguns setores foram fechados totalmente. O senhor foi a favor?

Farret - Ali, no início, foi para frear um pouco o ritmo. Posteriormente, deve-se seguir essa tríade que eu te citei. Agora, eu vejo uma coisa boa. As lojas ampliaram o horário de funcionamento. No momento que se aumenta o horário, diminui-se a aglomeração.

Diário - Ainda sobre a prefeitura, qual é a sua expectativa sobre o próximo governo de Pozzobom?

Farret - Primeiro, ele já manteve em dia os pagamentos de funcionários e credores durante a pandemia. Um prefeito que consegue isso pode se considerar feliz. E mais, já nesse ano, ele fez funcionar o Restaurante Popular, que é importante para a área social. No inverno, fez funcionar o Centro Desportivo Municipal (CDM) para os moradores de rua. Para 2021, eu acredito em um aquecimento da economia. O agronegócio vai dar outro boom, como ocorreu em 2020. Obras paralisadas também serão retomadas. Eu acredito em um bom governo.

Diário - Qual a avaliação que o senhor faz da eleição municipal de 2020?

Farret - Teve uma quantidade enorme de brancos, nulos e não comparecimentos. Não adianta o povo dizer que não vai votar ou votar em branco. Isso dá chance para que alguém se eleja, da mesma forma. Serve de reflexão. É preciso saber por que os eleitores ficaram muito em casa.

Diário - Na sua opinião, por que Pozzobom conseguiu se reeleger?

Farret - Porque o povo, mais do que nunca, entendeu a mensagem que ele apresentou. O prefeito apresentou a mensagem sobre o que foi feito e o que deverá ser feito. Ele falou sobre continuidade. Eu fui um dos que entendi. Votei coerentemente e conscientemente.

Diário - O senhor acredita que o seu apoio foi decisivo para a vitória dele?

Farret - Essa parte eu não posso falar. Eu ajudei com o meu mísero voto. Fui um simples eleitor, mas que votou coerentemente e conscientemente. Muita gente achava que eu estava idoso demais, "fora da casinha", então, talvez, Deus me ajudou para que eu tivesse força para votar. O governo dele foi de lealdade e ético para o povo de Santa Maria.

Diário - Outros cinco candidatos que participaram da disputa pela prefeitura apoiaram Sergio Cechin, que foi derrotado. Por que os apoios não se converteram em votos?

Farret - O eleitor notou que, nem tinha terminado a eleição, e já tinha gente mudando de lado. Então, o eleitor achou que os caciques dos partidos estavam mudando de posição por cargos. Os partidos não têm mais dono. O eleitor olha com carinho e estuda as mensagens.

Diário - Sergio Cechin foi seu vice-prefeito, de 1993 a 1996. Como o senhor avaliou a decisão dele de lançar uma candidatura própria contra o Pozzobom?

Farret - Eu já não estava no partido. Essa parte não compete a mim analisar. Quando eu concorri a deputado estadual pela terceira vez, ele concorreu também. Nós dois não nos elegemos. O partido resolveu colocar dois candidatos. Coisa que não aconteceu em outras vezes, quando Santa Maria teve, pelo PP, só um candidato a deputado estadual, com a Sandra Rebelato, foi só ela, e depois, o Paulo Denardin, só ele.

Diário - Se o senhor fosse prefeito e o seu vice concorresse contra o senhor na eleição, como o senhor se sentiria?

Farret - É um direito que ele tem. Só que eu acho que deve ser comunicado com antecedência. Até porque eu sempre via, pelos jornais e rádios, elogios mútuos de ambos. O vice dizendo que tinha um excelente prefeito, e o prefeito dizendo que tinha um excelente vice.

Diário - O senhor foi viceprefeito por três mandatos. Qual a dica que o senhor daria para Rodrigo Decimo, que assumirá o cargo em 2021?

Farret - Cada um tem a sua maneira de trabalhar. Com o (Cezar) Schirmer, por exemplo, eu era responsável pelo interior, saúde, que eu fui secretário por dois anos, distritos e atendimento junto ao prefeito, em audiências públicas. O vice deve ser sabedor de tudo que se passa na prefeitura para, quando assumir no lugar do prefeito, em eventuais necessidades, ele saiba o que fazer.

Diário - O vice pode decidir algo na prefeitura?

Farret - A função do vice é assessorar. Pode assessorar com conselhos, ideais, perguntas, mas nunca no sentido de truncar o andamento dos processos.

Diário - Qual o conselho que o senhor daria para Pozzobom na hora de escolher o secretariado?

Farret - Ele, pelo que eu vejo, vai mudar pouco. Não vai ter dificuldade, sabe o porquê? Quantos partidos apoiaram ele? PCdoB, o DEM e o PSL. Não tem divisão de cargo ou tem menos, porque um número menor de partidos apoiou ele.

Diário - Há algum potencial de Santa Maria que merece ser explorado e que ainda não foi?

Farret - Sim, o turismo religioso e de eventos. Além disso, temos que apostar na indústria. O que nos engrandece é o comércio e a prestação de serviços, mas, no dia que olharmos bem para a indústria, Santa Maria cresceria bem mais. 

*Colaborou Rafael Favero

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